quarta-feira, 29 de julho de 2009

Entrevista com Lourenço de Bem

Entrevista com Lourenço de Bem, artista plástico que irá expor no Vernissage Brasília 2009.

Lourenço de Bem é artista plástico desde criança. Sua formação começa em casa: seu pai também é artista plástico e arquiteto, Glenio Bianchetti. Lourenço é um experimentalista. Trabalha com pintura, escultura em papel marchê e cimento. Mantém no seu ateliê uma escola de artes. Loureço de Bem é Minuto de Cultura. Lourenço de Bem é uma personalidade da arte de Brasília, com um currículo internacional, formando gerações de artistas em seu ateliê e inovando em técnicas e estilo de fazer arte.


Vernissage Brasília 2009: Quando você descobriu seu interesse pela arte e quando você decidiu que gostaria de ser um artista plástico?

Lourenço de Bem: Meu interesse pela arte começou bem cedo, sempre tive acesso aos materiais de arte e desde pequeno era incentivado a me expressar. Minha decisão de me tornar um artista plástico ocorreu da maneira mais natural possível. Eu vinha pintando os meus quadros quando então fiz uma viagem para Goiás Velho e lá comecei a pintar prédios e igrejas. Dessa forma, meus trabalhos começaram a ser vistos e algumas pessoas se interessaram em comprá-los. Naturalmente eu me tornei um pintor, assim, sem a intenção de virar um profissional.

VB09: Como se deu a evolução do seu trabalho ao longo dos anos até ele chegar ao que é hoje?

LB:
Eu comecei a representar o mundo que me envolvia. O mundo da representação você representa a obra de Deus e a obra do homem. Eu estava ali representando a obra do homem, a parte arquitetônica de Goiás Velho. E de lá pra cá as coisas evoluíram muito na minha cabeça. Como professor eu trabalho com um leque de possibilidades plásticas enorme. Então eu acho que nós hoje somos multi. Multifacetados. Multifracionados. Por isso que eu acho difícil você ter um estilo. O legal é que você muda e a pessoa vê que você está por detrás do trabalho. Muda tudo. Muda tema, técnica. Mas você está ali por detrás da obra.

VB09: O que gera essa identificação nas pessoas?

LB: Geralmente você é acompanhado. Não por todo mundo, mas tem uma parcela bem razoável. Por exemplo, quando eu fiz 30 anos apareceu gente dizendo “eu acompanho o seu trabalho desde a primeira exposição”. Olha que coisa linda. 30 anos! Tem gente que reclama até hoje que eu deixei de fazer natureza morta, representar volumes em transparência. Isso foi importante pra mim numa época. Eu ensino as pessoas a fazerem isso. Mas não é o que me motiva a fazer, hoje em dia.

VB09: Como é a sua relação com os materiais que você utiliza na suas obras? Como é essa escolha?

LB: A tinta que eu uso é de baixa toxidade. Eu trabalho do vinil ao acrílico, tudo à base de água. E nesse meio termo, milhões de granulações sintéticas, naturais, coisas que já foram usadas a muito tempo nas artes plásticas. Eu não gosto de usar nada que mata. Quinze anos de uma profissão e você vai arrumar uma doença fatal. Uso tudo o que eu puder, até aquilo que as pessoas não pensam que pode ser usado. Tudo aquilo que hoje, depois de eu interferir, você olha esteticamente como uma coisa bela e gostaria de ter dentro de casa. Isso tem haver com a arte Povera que é uma arte baseada na reciclagem, nos detritos da cidade. O lixo.

VB09: E em relação as suas esculturas da tribo do Zé, como foi feita a escolha do papel marche?

LB:
Eu sou um artista totalmente empírico. Eu ouvia pessoas falando do papel marche. Minha mãe e minha irmã fizeram um curso desse material e então resolvi ir a uma aula e ver como se fazia a massa do papel. E dali, daquela massinha que era pra fazer utensílios domésticos, pratos, coisas assim, eu adaptei para fazer formas mais volumosas. Com aquilo que as pessoas faziam pequenas coisas, eu fazia grandes quantidades. Entretanto, eu tive que adaptar o material, adaptei a cola, o grude. O papel marchê que eu uso é meu. Eu também ensino para outras pessoas, elas adoram e fazem coisas absurdas.

VB09: E como surgiu a tribo do Zé?

LB: Eu comecei a verticalizar uma imagem que foi o Zé. Ele foi a primeira figura que eu fiz. E ficou sendo o único por muito tempo, aí as pessoas começaram a falar que a figura solitária atraía solidão. Na época eu não estava muito bem emocionalmente, então eu fiz a Tribo do Zé, para ele ter amigos, mulher e filhos.

VB09: Fale um pouco do ateliê Lourenço de Bem e como se deu a parceria entre o Ateliê e o Vernissage Brasília 2009?

LB: Há 25 anos eu ensino, comecei substituindo meu pai na escola em que ele dava aula para depois então criar meu próprio ateliê.

Eu recebi um telefonema da organização do Vernissage que buscava artistas para expor. Elas mês pareceram pessoas jovens, dispostas e com bastante profissionalismo, que estão a fim de ganhar a vida com arte. Gostei. Elas me passaram vontade e segurança. Então por que não? E casualmente a nossa marchant mudou-se pra São Paulo e nós ficamos sem ninguém. Seria bom pra nós que precisamos delas pra vender e para elas que terão vários artistas expondo, mercadoria para trabalhar.

VB09: Qual a expectativa do Atelier em relação ao Vernissage?

LB: Tomara que seja ótimo, que todo mundo saia feliz. Porque ninguém quer fazer uma exposição só.

terça-feira, 28 de julho de 2009

"A arte, escreve René Huyghe, nunca foi tão importante e obsedante, a não ser em nosso tempo; nunca foi tão difundida, saboreada e, concomitantemente, nunca tão analisada e explicada. Ela tira partido, sobretudo a pintura, do papel primordial conquistado em nossa civilização pelas imagens"

Bourdieu, Pierre. In_"Amor Pela Arte", p.20, 2007.